Solo, solo
















Nunca pisei em solo estável
Se o pisei, nele nunca continuei
O solo firme, mais seguro

Não suja os sapatos, não contenta o mundo

Sempre andei em solo pouco firme, agradável
Desviei, vez por outra, e naufraguei
E tentando, limpei-me do lamaçal impuro
Que sabendo eu, não era bom, bem lá no fundo

Por caminhar no vai-e-vem dos plásticos caminhos
Não alcançava o que por lá era meu alvo
Despedaçando-me cada dia mais longe da terra firme

E querendo por mui ser lá meu destino
Fui covarde não tentando ao menos o chegar
Castigando-me a jamais ter o prazer de lá estar

E estimando já estar selado o meu destino
Esqueci-me da graça do lugar tão querido
A contentar-me da miséria a por mim chamar

Mas um dia pude, não por mim, resgatado ser
Livre estar dos sujos-plásticos caminhos
Pra enfim gozar da firmeza de um calçado andar

Nunca mereci solo firme, sim piçarra
Mas a graça, não a minha, firmou os tortos passos
Para um andar de mercê doutros pés afogados

L. A. Freire (2014 com modif.)

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